24/08/2009

Je danse avec l'amour

Tu danses avec l'amour
En oubliant le monde et le temps
Heureux comme peut l'être un enfant
Indifférente aux regards des gens
Je danse avec l'amour
Sur la symphonie des sentiments
Avec aisance
Je danse, regardez, je danse

Je danse avec l'amour, do álbum 'Insolitement Votre'(2005) - Charles Aznavour, com Mayra Andrade

A dança é um acto louco de intimidade. Enquanto se dança, há alguém que invade o nosso perímetro de conforto. As mãos, os corpos, os olhos tocam-se. Um antropólogo, Edward T. Hall, que estudei em tempos, definiu quatro tipos de distâncias mensuráveis: distância íntima, pessoal, social e pública, redesenhando o conceito de "proxémica".

Na dança, tal como na vida, não pensamos se estamos a ultrapassar os limites pessoais, sociais e íntimos de das outras pessoas. Vivemos apenas.

Enquanto que, em algumas sociedades, a distância íntima, em modo 'próximo, variável entre os 0 e os 45 centímetros, é proibida, quem pensa nisso quando dança ou vive, intimamente?

19/08/2009

Tempo

O tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que não tem tempo de dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.

Trava-línguas popular

O tempo é horrível. Castrador. Exaustivo. Enervante. Especialmente quando temos ao nosso lado pessoas de quem gostamos muito. Irrita-te que duas horas pareçam 10 simples minutos. Irrita-me que um fim-de-semana, pintalgado de carinhos, pareça um par de horas.

11/08/2009

"Goodbye" Seems To Be The Hardest Word

What do I do to make you want me
What have I got to do to be heard
What do I say when it's all over
And sorry seems to be the hardest word

Sorry Seems to Be the Hardest Word, do álbum Blue Moves (1976) - Elton John

Permitam-me alterar o "Sorry" do título original para um mais nacional "Adeus", que nada tem a ver com a letra da música do Sir Elton.

Já por duas vezes encontrei no terminal dos expressos, em Lisboa, o mesmo pai e o mesmo filho a despedirem-se. Das duas vezes, partiram-me o coração. A criança, um rapazinho muito moreno, não deve ter mais de oito anos. Chora copiosamente, agarrado ao pai.

O pai, dono de uns lindos olhos azuis, conforta o filho, com beijos no cabelo, de uma forma muito controlada. Até que, inevitavelmente, o pequeno tem de entrar no veículo. Nessa altura, das duas vezes, o pai coloca os óculos escuros para que o filho não o veja a chorar, aumentando a dor da separação.

Por duas vezes, vi o pai a acenar ao filho com uma mão, até o autocarro sair do seu campo de visão, enquanto que, com a outra mão, limpa as lágrimas. Sozinho. Naquele terminal onde, diariamente, centenas (milhares?) de pessoas se despedem.

Também já me despedi de uma pessoas umas quantas dezenas de vezes naquele mesmo local. A dor de me despedir começa no exacto instante em que ele me pergunta "Vamos andando?". E custa. Muito. Ainda para mais quando odeio dizer "adeus" que, na minha opinião, é a palavra mais feia do dicionário.

Por norma, nunca digo "adeus". Prefiro um "até à próxima", ou um "quando chegar, aviso", ou um "vai-te embora, escusas de ficar aqui". Evito o terrível "adeus", porque, ao contrário da música, "sorry" não é a palavra mais dura.

07/08/2009

Boa noite, Lua

So goodnight moon
I want the sun
If it's not here soon
I might be done
No it won't be too soon 'til I say goodnight moon

Goodnight Moon, do álbum 'I oughtta give you a shot in the head for making me live in ths dump' (2000) - Shivaree

Parece que a Lua foi ontem. Parece que foi ontem que a Lua estava ali, bem redonda. Mas ontem, não vi o céu. Acordei tarde demais e a rainha da noite já não me viu.

Parece que foi ontem que olhei para as estrelas. Circundavam a Lua. Azul, amarela, com tons castanhos-terra. Uma Lua Cheia, meia-Crescente, meia-Nova, meia-Minguante, meia-poente e meia-todos-os-outros-pontos-cardeais. Uma míriade de pontos clarinhos num tapete negro, como a tez de um gato.

Tinha a impressão que a Lua foi ontem, mas parece que me enganei. A noite soava a doce de morango. Ou a gelatina de ananás, não sei ao certo... mas tinha travos agridoces. A noite, ou a Lua, tanto tem de doce, como de quente, como de negra, como de clara... é, apenas!

Parece que a Lua foi ontem. E com ela, contámos tracinhos de cor. Parece, mas não foi. Foi há tanto tempo que já nem sei.

03/08/2009

Twenty Four Hours

Oh how I've realized, I wanted time
Put into perspective,
try so hard to find
Just for one moment I thought
I'd got my way
Destiny unfolded -
watched it slip away

Twenty Four Hours, do álbum 'Closer' (1980) - Joy Divison

Todos os dias escrevo milhares de caracteres. Tantos que lhe perco a conta. Sei apenas que, no final de cada semana, ascendo às centenas de milhares de caracteres escritos. Tantos que dariam um livro.

Um livro que, todos os dias, começo a escrever e que nunca termino. Um livro que me acompanha há meses sem que tenha pensado sequer na personagem principal, no seu nome, idade ou profissão. Um livro que não tem uma página de rosto.

Todos os dias penso no quanto gostaria de ser autora do meu próprio livro. Todos os dias sento-me à frente do computador e volto a pensar no meu livro nunca escrito. Todos os dias pego no meu caderninho de capa verde e anoto pensamentos que nunca passam disso mesmo: de anotações no caderninho de capa verde. Todos os dias abro o caderninho e olho para as centenas de linhas escritas e que nunca vão ver a luz do dia.

Desistir é isto?