Fechou os olhos e deixou que a água quente que jorrava da torneira percorresse cada milímetro do seu corpo. Sentia o nível da água a subir, dentro da banheira. Precisava de limpar o corpo, como se a água pudesse, também, apagar a sujidade que sentia na mente.
A água queimava-a. Mas ela não se importava. Estava a sentir um certo prazer naquela dor. Merecia aquela dor. Não era melhor que ninguém e aquela sensação de quente excessivo lembrava-a que era apenas humana. Que errava como os humanos. Que fazia asneiras como os humanos.
O nível da água continuava a subir. Chegava aos ombros como um abraço. E quão insuportável estava aquela água?! Mas um abraço daqueles apertados... um daqueles de que nos queremos ver livres rapidamente, porque nos cortam a respiração e nos fazem sentir prisioneiros. Queria chorar, mas tinha gasto todas as lágrimas nesse dia.
A água já chegava à boca. Desligou a torneira e deixou-se estar. Susteve a respiração e mergulhou a cabeça até não aguentar sequer mais um segundo sem se libertar.
Deixou-se ficar. A água começava a tornar-se suportável. Manteve-se de olhos bem fechados, a sentir a sua própria pulsação... a mente viajava para longe de tudo e todos. Como não podia desaparecer, dava-se ao luxo de se abstrair. De fugir, mesmo que por breves momentos.
A água continuava quente. Começou a chorar. Finalmente, libertou-se.
A água quente aliviava-lhe as dores do corpo, e as lágrimas aliviavam-lhe dores bem mais fortes e que nenhum comprimido faria passar.
Passou, energicamente, o sabonete (com cheiro a rosas) pelo corpo. Esfregou, por três vezes, champô na cabeça. Saiu do banho, esvaziou a banheira e viu as lágrimas a descerem pelo cano. Estava pronta.
07/08/2008
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13 comentários:
Tomar banho com água morna sim, com água quente (quase a ferver) é que não! Nem no Inverno!!!
Beijinho,
Nuno.
Vagueou lentamente pelas veredas da finitude dos recomeços, quando o tudo e o nada se encontram e mostram a face do meio termo. "não te amo, quero-te", pensou, como que à espera de que no espelho se desenhasse o meio da ponte e assim pudesse dizer "é aqui onde estás, o meu coração mora do outro lado".
Estava pronta, até ao próximo recomeço.
Nuno, a água a ferver limpa as impurezas... :)
Beijo
Francisco, e o que acontece quando, na encruzilhada, sentimos que estamos do lado certo da margem, mas a ponte apresenta-se como uma barreira?!
Só a "protagonista" do teu texto pode responder a essa pergunta...
Eu sei.
Explica-me lá...se estás na margem certa, para que precisas tu de uma ponte?
E mesmo que queiras passar para a outra margem...vai a nado! Pode demorar mais tempo, mas com jeito chegas lá.
Cenas de gaja, Requiem ;)
Até assusta o quanto somos parecidas.
Beijos
Porra, gostei disto.
Ni, gosto de "culpar" o nosso signo :)
Eremita, obrigada! :)
Beijos
Ahahahahaha, essa, minha querida, tem direitos de autor.
Bjs
Aprendi contigo, querida :))))
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