26/07/2008

Zapping

Um zapping inconsequente, sem sentido, nem objectivo... um zapping só “porque sim”. As imagens passam-lhe em frente dos olhos sem que ela sequer repare nelas. Está a olhar para o ecrã sem o ver.

Um zapping por entre filmes, tragédias, futebol e enredos de novela... num gesto impensado... só a carregar na tecla >> do comando.

Não vê, nem ouve nada. Só carrega na tecla daquele aparelho que tem na mão. Como se a sua felicidade dependesse daquele gesto. Como se ela própria conseguisse andar em frente e mudar como os canais de televisão. O zapping dá-lhe um objectivo: chegar ao fim. Qual fim? Não interessa. Só quer chegar ao fim.

Pudera ela ter um comando na vida. Um “fast forward” em algumas cenas, um gesto que podia silenciar outras. Podia seleccionar o que gostaria, gravar ou simplesmente desligar a televisão... a vida... a sua vida. E que jeito lhe daria um “off” completo. Aquele zapping dá-lhe poder. Pode escolher. Mas agora não lhe apetece escolher. Só continuar a carregar no botão >>

Carrega sempre no mesmo botão. Às escuras, sentada no sofá, com as lágrimas a correrem pela face, e com o som da televisão desligado... agora só o zapping faz sentido.

21/07/2008

Esta semana

Esta semana, li umas quantas mensagens que deixaram com um sorrisinho parvo durante horas. As duas primeiras de uma dona gaja, uma pessoa que aos poucos vai entrando na minha vidinha e no meu círculo. Disse-me ela:

"fofa que tu és!! :)"

"Miúda... tu tens ideia de quantas pessoas te adoram? aquele adorar bom que aquece o coração e faz aparecer o sorrizinho pateta... e de repente nada corre assim tão mal!!"

Como podia eu continuar mal-humorada e stressada com coisas menores, quando tenho amigas que me dizem estas coisas?! Penso que, às vezes, andamos tão absortos nos nossos problemas e nas nossas chatices diárias, que esquecemos que basta um pequeno desabafo para as tragédias virarem brincadeiras de criança. A J. tem razão: nada corre assim tão mal.

E sim, fiquei de sorriso pateta, porque somos amigas! E porque o abraço que me deste, no meio da cidade, quando foste comprar as calças, na semana passada, me aqueceu o coração. E porque, mesmo atrasadíssima para um trabalho, passei pelo teu emprego, só para te dar um beijinho. É este "gostar bom" que falas?

Depois... uma mensagem de um galanteador: "Quem conquistar o teu coração será certamente um homem feliz!". Assinou como Scorpion. Curiosamente, não apaguei a mensagem. Ele não me pediu nada, não foi ordinário, não lançou bocas foleiras, nem me ofereceu de bandeja o e-mail... é uma frase simples. Scorpion, achas mesmo?

Tive vontade de lhe perguntar: porquê? Achas que sou boa pessoa através de uma análise à cor do meu cabelo, ou gostaste do formato dos meus tops? Sou boa pessoa porque sou morena? Ele não me conhece, mas... apesar de ser uma frase estranha, não a apaguei. O que o leva a destinar a felicidade de homem com a conquista do meu amor?

Fiquei a rir-me como uma parvinha. Um sorrisinho que se prolongará... prometo que vou tentar!

15/07/2008

E quando..?

E quando esquecemos como é que a voz dele soa junto ao nosso ouvido?

E quando o cheiro dele já desapareceu da nossa roupa?

E quando já não ansiamos para que ele nos telefone?

E quando passamos a acreditar que ele já não 'aquece nem arrefece'?

E quando passamos um dia inteiro sem pensar no que ele estará a fazer e com quem?

E quando, apesar de tudo isto, corremos para o computador só para olhar para a foto dele? E quando, apesar de tudo isto, sentimos um pequeno aperto no peito quando vemos a janelinha com o nome dele subir no Messenger? E quando, apesar de tudo isto, falamos com ele e desejamos secretamente que ele diga que ainda pensa em nós?

É nessa altura que erguemos a cabeça, olhamos em frente, e esquecemos o que ele foi para nós? É nessa altura? É nessa altura que olhamos para o futuro, mesmo que não sejamos capazes de apagar o número dele do telemóvel? Ou há qualquer outra fase?

12/07/2008

Só porque sim!

Perguntas-me "porquê". "Porque sim", devolvo-te. Não é resposta. Eu sei que não é. Mas tem de haver uma explicação?!

Porque é que o céu é azul?

Porque é que gosto de músicas de amor?

Porque é que gosto de dormir contigo?

Porque sim. Não é resposta suficiente?! Porque te amo. Porque sem ti não funciono. Porque sem ti, parece que vivo a vida de outra pessoa. Porque tu és a metade da minha laranja. Porque contigo sinto-me em casa.

Porque é que me arrepio quando me beijas?

Porque é que os meus olhos brilham quando estás por perto?

Porque é que bebo as tuas palavras?

Porque sim. Tem de haver uma explicação?! O amor tem explicação?! Que mania a de querer encontrar justificações... porque sim! Porque sim! Porque sim!

08/07/2008

Foda-se

Começo por pedir desculpa. Sabem que não é meu hábito praguejar. Mas desta vez teve de ser. Há coisas difíceis de engolir e mesmo passados 4 dias ainda não esqueci aquele rosto.

Sexta-feira, no Porto... plena Avenida dos Aliados. O tempo estava carregado, o sol há muito não se via, as nuvens cinzentas ameaçavam chuva a qualquer instante. Eu tinha chegado à cidade há pouquinho tempo; tinha ido à pensão largar a mala e voltei a sair para lanchar. Perto do McDonald's, estava um senhor de alguma idade, encostado a uma parede, com a mão no peito... quase a chorar. Respirava com dificuldade. Centenas de pessoas naquela maldita rua e ninguém olhava para ele. Ou se olhavam, nada faziam.

Aproximei-me.

«O senhor sente-se bem?»
«Não, minha filha. Não estou nada bem. Vim agora da quimioterapia no IPO.»
«Lamento. Precisa de ajuda? Quer que o ajude a ir a algum lado? Posso chamar alguém...»
«Não tenho ninguém, filha. Sou viúvo e só tenho o meu cão por companhia nestes meus últimos dias. Não tenho dinheiro para nada e só peço a Deus que me ajude a passar a ponte, porque vivo para lá do Monte da Virgem, mas vai. Vai em paz! E obrigado!»

Foda-se. Não esqueço aquela cara. Aquele ar sofrido. Penso nisso e podia ter feito mais. Podia ter chamado um táxi e metido o velhote lá dentro, por minha conta. Foda-se. Podia ter feito mais e melhor. Foda-se para a indiferença das pessoas que passavam por ele e nada faziam. Não o esqueço!

01/07/2008

Ninguém é de ninguém ou Na dúvida, sou belenense

É um título estranho, eu sei. Não sabia mesmo era que nome concreto lhe havia de dar.

É ainda mais estranho escrever um texto, guardá-lo durante eternidades, abri-lo, eliminá-lo do computador, mas manter este título. Sei que não o quero eliminar... é um título com potencial.

Também há a estranheza de ter milhares de coisas a dizer sobre isto e não conseguir passá-las para o computador. Porque parecem superficiais, porque não quero parecer uma sofredora, porque acho que não vale a pena, ou porque simplesmente estão mal escritas...

Ninguém é de ninguém... restam dúvidas quanto a isto? Não quero escrever o óbvio. Não quero escrever algo que já foi lido mil vezes, debatido outras duas mil... ninguém é de ninguém. Ponto final.

Na dúvida, sou belenense... excepto para os seus sócios, o Belenenses é sempre a segunda escolha. No meu caso, a terceira. Quando as coisas não correm bem para as duas primeiras escolhas, opto pelos azuis do Restelo. É uma ideia parva, susceptível de várias interpretações e mal-entendidos. Mas é o que sinto: que, na dúvida, envergo, orgulhosamente, a camisola com a cruz de Cristo.

É um título estranho, reconheço e assino por baixo.

Tinha milhares de coisas para escrever. Mas há medida que vão aparecendo palavras na folha do Word (com ou sem sentido... tanto faz), vou perdendo o fio condutor que me levou a abrir (de novo) este documento, com este título. Como se perdessem importância (será que alguma vez a tiveram?)...

Fiquemos então com o título que disse mais sobre a minha actual situação do que todos os textos, mais ou menos conseguidos, que alguma vez escrevi. Se tivessem um título para dar à vossa vida, qual seria? O meu é este “Ninguém é de Ninguém ou Na dúvida, sou Belenense”.