O dia escureceu mais cedo. Divertida, pensou que o dia poderia ter sido mais longo se a preguiça matinal lhe tivesse permitido levantar da cama. O dia teve as mesmas horas de sempre, ela é que se permitira ficar na cama mais tempo.
Enquanto fechava a janela do quarto, olhou para o horizonte, enquanto Mozart ecoava pela casa quase vazia.
Escurecia. A cama aberta lembrava-a que, à noite, deitar-se-ia, de novo, sozinha. E lá fora continuava a escurecer. Já não sentia medo do escuro, nem receava que um monstro saltasse do armário... sentia, sim, cócegas de solidão.
Sentiu um arrepio estranho. Como se a noite lhe tivesse entrado pela casa dentro e tivesse absorvido o calor que havia entrado pela janela durante todo o dia. Tentou distrair-se, abster-se do sussurro da noite. Aquela escuridão, que saltitava à sua frente, não a deixava tranquila.
Se, ao menos, ele ali estivesse.
Se estivesse, gozava com aquela noite malvada. Reduzi-la-ia ao ridículo. E não deixava que a noite atormentasse um serão que se queria tranquilo. E se eu lhe telefonasse? não. Seria a solução mais fácil. E ela era uma mulher. Não uma criancinha assustada.
O telefone tocou. Queria ouvir a tua voz hoje. Como foi ele adivinhar?!
Foi mais cedo para a cama. Sem medos, porque embora longe, ele estava ali. A afastar as cócegas da solidão e a aquecer a noite. E a cama vazia de um corpo.
17/01/2009
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6 comentários:
Ah essas cócegas...pois sei
:)
Pois... e eu também (in)felizmente!
Ela que telefone a outro!
PS. carregada de sensibilidade esta ;)
Hahahahah... completamente!
mozart? antes a "patética"... :)
Hahahaha... eu gosto de Mozart. E, um aparte, nem sempre a "ela" das minhas histórias sou eu! Neste caso, só lhe emprestei o gosto musical, até porque não tenho medo do escuro ;)
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